terça-feira, 21 de junho de 2016

Política Cultural - Lei Rouanet - Editais.

É preciso estabelecer nos editais um percentual mínimo de pagamento aos artistas criadores !
A atividade artística não pode servir como mão de obra barata e trampolim de outras atividades.
Economicamente é preciso poder viver com dignidade desta atividade e sem observar a problemática dos editais isso é cada vez mais difícil.
Editais que não permitem, por exemplo, formação de capital naquela cadeia produtiva ou que se tornam um meio de vida para poucos e não um verdadeiro sistema de apoio a cultura, trazem mais problemas que benefícios.
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As empresas que fazem parte do supersimples não podem participar da lei Rouanet, mas bancos que lucram bilhões, podem. Vc sabia ? O que acha disso ?
Vc percebe que o problema não tem nada a ver com os artistas, mas com um modelo de apoio e concentração de renda sempre para os mesmos que este país vive desde Cabral ?
Vc sabia que o grosso do investimento da lei Rouanet, coisa assim de 80% se concentra no eixo Rio-São Paulo ?
Vamos discutir políticas públicas para a cultura !
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Há na lei Rouanet projeto de milhões onde o "custo" dos artistas não chega a 5% do projeto. Vc entende que o artista não é um vagabundo e tem muito caroço nesse angu? Só lembrando que sem os artistas o tal "projeto" não existiria. Nós temos que parar de ser a mão de obra barata nestes editais.
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São estes shows milionários pagos com recursos públicos , que só servem de showmícios para prefeitos, que precisam acabar e não o ministério da cultura. São os aproveitadores e atravessadores que realizam projetos milionários com ou sem incentivo e pagam uma miséria aos artistas locais que precisam ser combatidos. São as distorções do financiamento regional, da ausência das pequenas empresas e do uso dos artistas como mão de obra barata por alguns projetos da lei Rouanet que precisam acabar...

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O Palco que piso... Por Moacir Japearson.

O palco que piso nos ensaios é um palco imaginário, não seria o palco real do chão cheio de estrelas da música de Silvio Caldas, mas é tão vivo e lindo quanto o da música. Elias me convidou para fazer teatro e começar com um texto de Shakespeare. Elias é um louco mas nesse assunto tocarei depois.
Eu nunca pensei fazer teatro na vida e não sei porque Elias acha que sou capaz de fazê-lo mas isso também é uma coisa que não saberia dizer, somente ele poderia explicar.
Nao sei que tipo de coincidência divina se deu mas o convite me veio depois que conheci o Teatro de Epidauros, no santuário de Esculápio, deus da medicina. Lá descobri pela primeiríssima vez que os gregos tratavam as pessoas pelo teatro; o teatro fazia parte da terapia de cura, principalmente para as enfermidades da alma, ainda no século 13 antes de cristo. Quando estive lá e pisei naquele teatro pensei imediatamente em todas as vezes que saímos de casa e buscamos ver alguma peça teatral, nessas tantas vezes que vamos ao teatro na vida. Pensei em que consiste hoje, modernamente, o teatro na vida das pessoas e que cura esse teatro pode fazer nas nossas almas agitadas desse cotidiano moderno, sem respiro para quase nada. Será que o teatro hoje nos serve como terapia divina, ou ele é somente um meio de saímos de nossas casas numa sexta-feira à noite?
Nao concatenei a coincidência ainda, mas assim que voltei Elias me propôs ensaiar um papel no teatro. Eu, sinceramente, achei que ele estivesse brincando. Perguntou se eu toparia, e eu como dificilmente sei dizer não, disse que sim. E me entregou um papel com o texto e marcamos o primeiro ensaio.
O ensaio se deu em uma sala de chão cinza , coberto com um material plástico em boa parte, da cor azul. O meu teatro elisabetano tem um palco pequeno para um papel enorme: farei Iago, da obra “Otelo, o mouro de Veneza”. Vocês também devem concordar agora comigo quando falei que Elias é um louco. Sim, um louco por chamar um aprendiz para um papel desses. Mas compreendi com o passar dos dias que a loucura de Elias é benevolente e filantrópica por natureza pois ele bebe dos gregos e para ele o teatro também cura, se não pessoas, mas uma cidade inteira. Elias está tentando reavivar o teatro quase morto da nossa cidade, um teatro que já foi vivíssimo e pungente na década de oitenta e noventa do outro século. Elias é um trabalhador braçal nessa questão e com o grupo 4noPorão está resgatando um pouco dessa história.
Cada vez que piso no meu palco imaginário para ensaiar aprendo que o teatro é sublimador, cheio de riquesas e detalhes e que o ator é um ofício acima de todos os ofícios, que ser ator não é fácil ao mesmo tempo que não é terreno, não é humano, é divino e curador como os gregos acreditavam.
Ser ator é um estágio a mais na existência humana e um bom ator no palco é a encarnação de vários deuses. E o que estamos fazendo é tentar resgatar essa experiência que só quem pisa em um palco deve saber. Eu ainda não pisei no palco, mas estamos nos preparando, músculo a músculo, voz a voz, corpo a corpo para que esse nosso teatro cure a todos da monotonia dos venenos cotidianos que intoxicam as almas, mesmo que elas não se percebam disso. Tudo isso fazemos por nós, por vocês e pela alma ainda viva do teatro.

terça-feira, 31 de maio de 2016

MilkShakespeare - Ensaios 2


MilkShakespeare - Ensaios


MilkShakespeare.

Teatro é um espaço de encontro.
Um processo de construção, desconstrução e feitura de sentidos.
MilkShakespeare é uma contribuição ao teatro de grupo da cidade e uma abertura para a dramaturgia universal.
É desta forma que a companhia de teatro 4noPorão se posiciona... espaço de encontro, fazer, pesquisa.
Nossa peça se desenrola em trechos diversos de Shakespeare, como um vislumbre, uma percepção fantasmagórica, um momento sublime.
MilkShakespeare é também um teatro que prima pelo ator, sua presença e formação. São passos pequenos, nós ensaiamos em Garanhuns e pensamos no mundo, no universal.

domingo, 5 de julho de 2015

Neblina e Sombras.

Estes dias a cidade esteve envolta em neblina.
É das coisas que se vê por aqui o que mais gosto. É uma dádiva da natureza.
Quando a maioria dorme ou assiste sua tv , caminho dentro da noite e observo...
Estou de volta a este lugar depois de tantos anos.
Viajei, conheci outros lugares e outras pessoas, mudei bastante, mas de certa forma
permaneci acreditando em muitas coisas do passado.
Sempre que chove ou que a neblina desce, gosto de caminhar
pelas ruas da cidade e refletir, gosto de dilatar o tempo
e aprimorar o olhar sobre os lugares, as pessoas, sobre mim mesmo.
Aprecio dentro da neblina o contraste entre árvores, luzes e sombras
e me recrimino por não ser um bom fotógrafo e pior cronista.
Das colinas observo as luzes artificiais que desenham o que chamamos cidade.
Tudo parece colaborar para o aconchego, o estar junto,
um chocolate quente, um vinho, uma presença.
A neblina porém revela e esconde.
Quando mais jovem e participando de toda sorte de movimentos sociais,
religiosos, culturais, contestatórios,
comecei a andar pelos bairros menos favorecidos da cidade...
Ah, sim tive que deixar o "eixo monumental" da Rui Barbosa
e adjacências.
Era preciso para que me sentisse completo e mais humano
conhecer a Liberdade, a Cohab I, a Boa Vista, os becos de Heliópolis, o Indiano.
Lugares e pessoas tão próximos, tão distantes.
Conheci e amei pessoas maravilhosas nestes lugares,
reconfigurei meu olhar para o outro, para sua casa, para os seus
e de certa forma descobri um caminho mais tolerante e amoroso.
Descobri também o imenso preconceito com os mais pobres
do lugar e de todos os lugares... Todas as caras do preconceito,
suas justificativas, seu desprezo.
Em meio a neblina percebi uma miséria escondida entre as sete colinas,
um quê de tristeza de crianças que não tem um casaco para o frio.
Logo o frio, a chuva, a neblina que eu amava...
A natureza é inocente, porém.
É da humanidade, do nosso caminhar na noite fugidia, que vem os tormentos...
Sim, e eles existiram.
Ao deixar esta casa depois de anos de lutas
parti para minha jornada de vida comunitária com um certo amargor
na boca. Era para mim difícil de acreditar que as pessoas
não estivessem dispostas a compreender o meu caminho...
Fui ver e experimentar o que é viver em comunidade.
E isto,esta vivência preciosa, curou-me.
Aprendi sobre o perdão e sobre a festa.
Sobre a importância do prazer do espírito, mas também do corpo,
tão negligenciado ou atacado pelas religiões.
A importância do sorriso, do estudo, da solidão e da presença.
Abençoado por todas as divindades da natureza, da mente, do existir e do não existir
encontrei neste mundo, pelas estradas, gente elevada.
Uma sabedoria acompanhada de exemplo, palavras, silêncio,sorriso e tranquilidade.
É por eles, que creio na humanidade.
Não são os odiosos, os vingativos, os mentirosos que construirão
um mundo melhor. A raiva é uma péssima argamassa.
Hoje, vejo que nos é apresentado constantemente um mundo odioso
onde as respostas são a vingança, o desprezo pelo outro, a incompreensão,
a intolerância religiosa, o racismo, a homofobia e uma profusão de coisas semelhantes.
Neste retorno a esta casa, vi como alguns companheiros
de jornadas antigas, se perderam nestes discursos de ódio
travestidos de justiça.
Como manipulados por líderes irresponsáveis e que só pensam em si mesmos,
tem alguns dos meus amigos, destilado um rancor,
um pensamento estreito, um dogmatismo fanático.
Outros se converteram sabe-se lá ao quê e se julgam puros.
Iluminados, quem sabe.
Alguns questionam abertamente minha espiritualidade difusa e não religiosa
como coisa inútil.
Penso que o caminho que nos querem mergulhar é um caminho de afogados
e quero chamar a atenção para a importância da
compaixão e vida comum.
Não é apenas com acertos em questões econômicas
que faremos uma vida melhor e por "vida" aqui, tomo todas as dimensões possíveis,
do alimento, da arte, do corpo que ama, do espírito elevado, do saber, da ciência...
É preciso não confundir vida com existência.
E nem no pior dos pesadelos supor que é o Congresso Nacional
quem deve determinar como vc trata os outros.
Quem é e quem não é família, por exemplo.
As comunidades são famílias. Suas experiências podem ser úteis
aqueles que desejam rever seu modo de viver neste mundo.
Onde está escrito que só há uma maneira de ser feliz?
Por meus amigos, os velhos e os novos, caminho na neblina outra vez.
Nos encontraremos na noite iluminada e etérea,
temos muitos contos para compartilhar em torno desta fogueira.