domingo, 5 de julho de 2015

Neblina e Sombras.

Estes dias a cidade esteve envolta em neblina.
É das coisas que se vê por aqui o que mais gosto. É uma dádiva da natureza.
Quando a maioria dorme ou assiste sua tv , caminho dentro da noite e observo...
Estou de volta a este lugar depois de tantos anos.
Viajei, conheci outros lugares e outras pessoas, mudei bastante, mas de certa forma
permaneci acreditando em muitas coisas do passado.
Sempre que chove ou que a neblina desce, gosto de caminhar
pelas ruas da cidade e refletir, gosto de dilatar o tempo
e aprimorar o olhar sobre os lugares, as pessoas, sobre mim mesmo.
Aprecio dentro da neblina o contraste entre árvores, luzes e sombras
e me recrimino por não ser um bom fotógrafo e pior cronista.
Das colinas observo as luzes artificiais que desenham o que chamamos cidade.
Tudo parece colaborar para o aconchego, o estar junto,
um chocolate quente, um vinho, uma presença.
A neblina porém revela e esconde.
Quando mais jovem e participando de toda sorte de movimentos sociais,
religiosos, culturais, contestatórios,
comecei a andar pelos bairros menos favorecidos da cidade...
Ah, sim tive que deixar o "eixo monumental" da Rui Barbosa
e adjacências.
Era preciso para que me sentisse completo e mais humano
conhecer a Liberdade, a Cohab I, a Boa Vista, os becos de Heliópolis, o Indiano.
Lugares e pessoas tão próximos, tão distantes.
Conheci e amei pessoas maravilhosas nestes lugares,
reconfigurei meu olhar para o outro, para sua casa, para os seus
e de certa forma descobri um caminho mais tolerante e amoroso.
Descobri também o imenso preconceito com os mais pobres
do lugar e de todos os lugares... Todas as caras do preconceito,
suas justificativas, seu desprezo.
Em meio a neblina percebi uma miséria escondida entre as sete colinas,
um quê de tristeza de crianças que não tem um casaco para o frio.
Logo o frio, a chuva, a neblina que eu amava...
A natureza é inocente, porém.
É da humanidade, do nosso caminhar na noite fugidia, que vem os tormentos...
Sim, e eles existiram.
Ao deixar esta casa depois de anos de lutas
parti para minha jornada de vida comunitária com um certo amargor
na boca. Era para mim difícil de acreditar que as pessoas
não estivessem dispostas a compreender o meu caminho...
Fui ver e experimentar o que é viver em comunidade.
E isto,esta vivência preciosa, curou-me.
Aprendi sobre o perdão e sobre a festa.
Sobre a importância do prazer do espírito, mas também do corpo,
tão negligenciado ou atacado pelas religiões.
A importância do sorriso, do estudo, da solidão e da presença.
Abençoado por todas as divindades da natureza, da mente, do existir e do não existir
encontrei neste mundo, pelas estradas, gente elevada.
Uma sabedoria acompanhada de exemplo, palavras, silêncio,sorriso e tranquilidade.
É por eles, que creio na humanidade.
Não são os odiosos, os vingativos, os mentirosos que construirão
um mundo melhor. A raiva é uma péssima argamassa.
Hoje, vejo que nos é apresentado constantemente um mundo odioso
onde as respostas são a vingança, o desprezo pelo outro, a incompreensão,
a intolerância religiosa, o racismo, a homofobia e uma profusão de coisas semelhantes.
Neste retorno a esta casa, vi como alguns companheiros
de jornadas antigas, se perderam nestes discursos de ódio
travestidos de justiça.
Como manipulados por líderes irresponsáveis e que só pensam em si mesmos,
tem alguns dos meus amigos, destilado um rancor,
um pensamento estreito, um dogmatismo fanático.
Outros se converteram sabe-se lá ao quê e se julgam puros.
Iluminados, quem sabe.
Alguns questionam abertamente minha espiritualidade difusa e não religiosa
como coisa inútil.
Penso que o caminho que nos querem mergulhar é um caminho de afogados
e quero chamar a atenção para a importância da
compaixão e vida comum.
Não é apenas com acertos em questões econômicas
que faremos uma vida melhor e por "vida" aqui, tomo todas as dimensões possíveis,
do alimento, da arte, do corpo que ama, do espírito elevado, do saber, da ciência...
É preciso não confundir vida com existência.
E nem no pior dos pesadelos supor que é o Congresso Nacional
quem deve determinar como vc trata os outros.
Quem é e quem não é família, por exemplo.
As comunidades são famílias. Suas experiências podem ser úteis
aqueles que desejam rever seu modo de viver neste mundo.
Onde está escrito que só há uma maneira de ser feliz?
Por meus amigos, os velhos e os novos, caminho na neblina outra vez.
Nos encontraremos na noite iluminada e etérea,
temos muitos contos para compartilhar em torno desta fogueira.




sexta-feira, 3 de julho de 2015

Estrangeiros - Sobre eu Marilyn e a apple pie.

Sobre eu, Marilyn e a apple pie.

A primeira vez que estive nos Estados Unidos da América foi aos 15 anos de idade,
era uma moleca ganhando de presente uma viagem pra Disney.
Fui a única do grupo que não fez questão de tirar foto com o Mickey mouse,
os rapazes argentinos da outra excursão me chamavam mais atenção.
Depois de vinte anos em 2014 retornei aos EUA,
não sou mais moleca mas continuo trocando rapazes argentinos pelo Mickey.
Dessa vez fui visitar parentes e a necessidade de falar inglês me fez voltar novamente esse ano.
Não precisa ser um bom observador para notar que existe uma bandeira americana
a cada metro quadrado desse pais, o que faz eles afirmarem o quanto são norte americanos
e o que faz me lembrar o quanto sou estrangeira.
Krishnamurti, um educador indiano por quem eu tenho um respeito profundo
diz que nacionalismo divide seres humanos, e é verdade.
Temos que ultrapassar o campo das nossas condicionadas consciências
e nos libertar de todo o lixo cósmico que acumulamos durante nossa existência
para que o nativo e o estrangeiro habitado em nos não seja nem dentro nem fora.
Sou uma estrangeira em um pais estrangeiro,
o que remete ser a minha condição sob minha perspectiva.
No final das contas tudo sou eu, tudo é estranho e intimo.
E nada mais intimo que dirigir a 95(tipo a BR)
ouvindo Take walk on the wild side do Lou Reed entre bandeiras americanas.
E nada mais estranho do que ser uma brasileira fazendo isso.
Me disseram que quem nunca provou a apple pie (tradicional torta de maçã)
não conhece os esteites.
Como sou adepta a rituais comprei uma apple pie
e a provei sendo fitada pela beleza americana da Marilyn
( tenho uma foto dela no meu quarto).
Ela me dizia sussurrando como se falasse para o Kennedy :
Devore a América girl! Devore a América baby!


Quebec Xavier eh formada em cênicas,
trabalha com animais, estuda mitologia grega e língua inglesa.
Se considera uma filha do mar da arte e de marte. (necessariamente nessa ordem)

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Festival de Inverno e Políticas de Cultura.

Aproxima-se o 25º Festival de Inverno de Garanhuns.
A cidade fica cheia de gente de diversos lugares, tribos, tendências,
parece respirar um ar mais aberto para as diferenças, para o novo,
para a arte que se apresenta de muitas maneiras e por um breve momento,
durante estes dias, torna-se um importante epicentro de difusão cultural,
Palcos para shows musicais, teatro, dança, circo se espalham pela cidade.
Há atividades de moda, fotografia, performances,
literatura e tudo mais que se queira ver,
mas os dias do festival passam rápido...
É neste momento que nossa reflexão se apresenta começando por propor
uma importante abertura para a auto-crítica que não parece muito em voga.
Há quem deteste críticas a cidade e parta logo para levantar slogans
"A cidade que queremos" a " A cidade da Garoa",
" O maior Festival da América Latina" e por aí vai...
Isto não lembra vcs do "Brasil, ame-o ou deixe-o' ? Da ditadura militar?
Não se trata de prática muito presente de detonar a cidade,
a programação do festival, a Fundarpe ou qualquer coisa do gênero,
mas de estabelecer uma crítica propositiva
que nos leve a sair desta situação incômoda de termos um grande
festival durante dez dias e pouquíssima produção cultural,
apoio inexistente aos artistas locais
e pouca presença no cenário cultural do estado e do país,
durante todo o resto do ano.
Uma instituição, um lugar, um povo, um indivíduo que não se pensa
que não lança um olhar apurado sobre si mesmo,
não pode avançar e aperfeiçoar-se.
É sobre isso que quero convidar vc a refletir.
Vamos começar com a imensa imaturidade de não perceber
o festival como um todo e focar quase sempre nas atrações para
a esplanada?
Um evento deste porte com ações de formação excelentes
e grande parte das pessoas e imprensa da cidade
focando apenas nas atrações principais da grande praça?
As atrações que fazem parte do mainstream cultural?
Colocar, por exemplo, os artistas da cidade para tocar as 22h
com uma praça vazia, é sensato? Isto divulga o trabalho deles?
Garanhuns recebeu apresentações maravilhosas de artistas consagrados
no mundo todo e que se apresentaram para gatos pingados
pq a formação estética deficiente não consegue lançar um olhar
sobre aquilo que não é pisado e repisado pela mídia...
Também pq não estavam na "praça principal".
Qual a praça principal?
Pode ser a "Praça da Palavra" não é mesmo?
É este um ponto importante a ser abordado:
Depois de 25 anos de festival é possível perceber
um olhar esteticamente mais educado do nosso povo?
Sim, pq estética, política, religião e tudo o mais se discute...
Conseguimos transformar o ethos social da cidade, profundamente machista
num ethos social abeto a diversidade que percebemos durante os dias
do festival de inverno?
Os 25 anos de festival fizeram da nossa cidade um lugar melhor
para seu povo? Qual o impacto permanente do festival de inverno
nas periferias , por exemplo?
Não basta se preocupar no que vai na praça grande,
como quem se preocupa do que vem da casa grande.
Precisamos de um olhar plural que enfoque:
-A formação permanente dos agentes culturais.
-O apuro do olhar.
- O apoio financeiro, com uma legislação funcional, para a criação
artística local, possibilitando desenvolvimento e autonomia sem apadrinhamentos.
- Um programa eficiente de gestão pública cultural
e gestão pública de equipamentos culturais,
que envolva entre outros, patrimônio material e imaterial, preservação da memória,
funcionamento permanente de equipamentos culturais,
acessibilidade nestes mesmos equipamentos,
competência e visão na gestão.
-Inserir a produção cultural local em circuitos regionais, estaduais e nacionais.
Não é possível mais que a cidade permaneça ausente
das políticas públicas federais e estaduais e sem uma política pública municipal
clara, elaborada com a sociedade civil organizada,
que leve em consideração os anseios do povo e dos artistas locais.
Não é possível que a cidade não se insira de forma vigorosa
nos circuitos culturais do país.
Precisamos pensar a cidade regionalmente e aqui entra também
a importante regionalização do Funcultura, tão falada e que nunca se concretiza.
Este fundo é hoje o principal mecanismo de financiamento a cultura do estado
e tem baixíssima presença o interior...
Sem pressão política a regionalização do funcultura não sai !
Não é possível construir uma política publica de cultura
sem considerar o financiamento dos artistas e dos equipamentos.
Nosso centro cultural está caindo aos pedaços.
Precisamos aprimorar no festival as questões transversais...
Criação artística, gênero, renda, machismo, juventude, tá tudo ligado.
Acredite, a parte onde os hotéis ficam cheios é a menos importante.
Um festival como este pode mover energias estagnadas na cidade,
energias do bem ( que em tempos de fanatismo estamos muito precisados).
Uma espécie de "força vital" para construir, para estruturar um lugar melhor...
Vamos fazer esta discussão? Trazer bons argumentos?
Durante este festival vá para o show de uma banda desconhecida...
Vá ao circo e ao palco de dança...
Vá ao teatro ( seja lá onde ele estiver).
Faça amizade com alguém de fora desta cidade...
Cultive.
Aprecie a criação local. Há aqui bons artistas plásticos, músicos, escritores...
Posso indicar alguns.
Pense se, como e pq o festival precisa fazer de nossa cidade
um lugar melhor para as crianças, os jovens, os velhos, as mulheres.
Misture-se com as diversas tribos da praça, sem preconceitos.
Faça uma oficina cultural ( normalmente acontecem no colégio Santa Sofia).
Que este seja o começo de um bom diálogo.




domingo, 28 de junho de 2015

Amigos Bons - Por Vivi Bezerra.

Amigo é bom! Ter e ser uma pessoa REALMENTE querida é maravilhoso.

Aristóteles escreveu sobre a amizade e sua relação com a virtude: 
“a amizade é, com efeito, certa virtude ou não ocorre sem virtude”. 
Ou não ocorre sem virtude… Muito bom!

O que caracteriza uma relação de amizade?

Particularmente, acredito que a amizade está relacionada com a ética, 
a reciprocidade, a lealdade, a compreensão e o tempo.

Amizade é coisa inútil, não procure utilidade num amigo! 
Como nem tudo é constante e semelhante (ufa, ainda bem!),
os amigos também são desagradáveis e por vezes são chatos e inoportunos. 
Mas, estão contigo e você está com eles. Sem mais.

“Ele dá o que é difícil de dar. Ele faz o que é difícil de fazer. 
Ele suporta o que é difícil de suportar. Ele revela os segredos dele para você.
Ele mantém seus segredos. Quando infortúnios lhe atacam, ele não lhe abandona. 
Quando você estiver para baixo, ele não o despreza. 
Vale a pena associar-se com um amigo dotado destas sete qualidades”.
Li num texto budista sobre a amizade e achei oportuno compartilhar aqui. 
Gosto, especialmente, da primeira qualidade.

Nos vemos nos nossos amigos, cada um parece estar acomodado numa parte íntima. 
Criação da imagem: me reconheço em meus amigos, 
neles estão contidas partes de minha imagem, 
também construo em conjunto com esta relação a minha imagem. 
Os laços afetivos tem origem no “eu” , este, na maior parte das vezes, 
quer ser preservado/afirmado e torna-se o principal ponto da relação. 
Selecionamos o que mostrar as pessoas e com os amigos não é diferente,
a aceitação do “eu” é algo forte nas relações. 
As mudanças internas e externas só tornam a relação de amizade ainda mais viva.



 Foto de Elliott Erwitt

Hoje tem o dia do amigo, tem o aniversário do amigo, 
tem o aniversário dos rituais de amizade, estamos repletos de datas comemorativas. 
Hoje, temos centenas de amigos virtuais, mantemos contato por  e-mail, 
facebook, twitter, orkut, SMS, celular e de outros jeitos tecnológicos que eu nem sei. 
Ficou mais fácil falar com o amigo 
e, no entanto, me pergunto, nos aproximamos mais dos nossos?
Estas ferramentas tecnológicas nos ajudam a aprofundar os vínculos com nossos amigos? 
De alguma forma isso afetou a qualidade das relações?

Acabo pensando por qual motivo as pessoas cada vez mais sentem uma sensação de solidão, isolamento, rejeição…

É ruim perder amigos, mas pior é se perder. 
Daí, ficar qualquer tempo sozinho é um suplício e construir relações íntimas fica muito difícil.

Não sei como terminar o post, 
há algo que não consigo explicar bem sobre minhas afinidades, 
minha atração e repulsa, pois passa por um campo menos consciente…

Bom, só pra finalizar mas não esgotando o assunto, os créditos precisam ser dados. 
O Junio Barreto tem uma música que inspirou o título do post e que gosto bastante. 
Aqui você pode assistir ao vídeo da música cantada pelo Junio e pelo Otto.

Para aqueles que posso contar nos dedos, um companheirismo cheio de amor.

Até!





Vivi Bezerra tem formação em artes cênicas, 
trabalha com produção cultural, estuda terapias orientais 
e tenta escrever sobre as experiências vividas.


sábado, 27 de junho de 2015

Rumi - Grande Poeta Místico.

Grande poeta místico, Rumi nos proporciona conhecimento
sobre espiritualidade e a intrincada jornada
entre mente e metafísica.
É destes poetas, muitos desviantes, que pode se alimentar
aquele que realmente procura seu caminho.
Ecos dessa bela poesia mística islâmica serão encontrados
mais tarde tb nos místicos católicos São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila.
A comunhão entre os seres, entre o universo
não é doutrinária .
A necessidade da confissão de fé é a necessidade do controle, da "ortodoxia"
e da estruturação do poder.
Continuo acreditando que ninguém precisa de religião para ser bom.


" Viemos girando do nada
espalhando estrelas como pó
As estrelas puseram-se em círculos
e nós no centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho
em torno de deus gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda
e terás a mão decepada.
Girando e girando essa roda dissolve
de todo e qualquer apego.
Não estivesse apaixonada ela mesma gritaria - basta !
Até quando há de seguir este giro?
Cada átomo gira desnorteado
mendigos circulam entre as mesas
cães rondam um pedaço de carne.
O amante gira em tordo
do seu próprio coração.
Envergonhado entre tanta beleza
giro ao redor da minha vergonha

Ouve a música do Sama
Vem unir-te ao som dos tambores!
Aqui celebramos:
Somos todos All Hallaj dizendo: "Eu sou a verdade"
Em êxtase estamos
embriagados sim, mas de um vinho
que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós
em nada parecerá com o que somos.
Giramos e giramos em êxtase
esta é a noite do Sama
Há luz agora!
Luz ! Luz !
Eis o amor verdadeiro
que diz a mente: adeus
Este é o dia do adeus
Adeus ! Adeus !
Todo o coração que arde nesta noite
é amigo da música.
Ardendo por teus lábios
meu coração transborda de minha boca.
Silêncio !
És feito de Pensamento, afeto e paixão.
O que resta é nada além de carne e ossos.
Por que nos falam de templos de oração
de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça. Outono e Primavera
Noite e dia, o visível e o invisível.
Somos o tesouro do espírito
somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra que pisamos
No amor fomos gerados,
no amor nascemos "

Rumi.

Não curta, nem compartilhe !

" Agora, aqui me apresento para tratar desse drama.
Se minhas forças faltarem, que seja eu eliminado até o pó, até o esquecimento
que se seguirá a um cerimonial digno..."

Prefiro por escolha e encantamento dizer sim.
É desta palavrinha besta
que me alimento , e tenho estado tão magro.
Hj, porém terei que rejeitá-la em prol de uma outra idéia, percepção
e busca de sentido.
Eu penso na morte ! Sem compromisso ou repugnância.
Penso no sofrimento e na angustia sem o  temor desmedido das novas teologias.
Não me deterei aqui, entretanto. Nem na morte, nem na dor, mas no rito,
na passagem  e na ética que lhe dá sentido.
Talvez, seja este um texto cheio de questionamentos e sem nenhuma certeza.
Não é humildade, não sou humilde, sequer a considero uma virtude...
Penso agora de maneira direta, dura, sobre os mortos... Os assassinados por
grupos terroristas, por bombas, por acidentes de carro, pelo machismo...
Penso nos despedaçados, mutilados, queimados vivos, decapitados...
Sim, eu penso neles e me compadeço.
Não os conheci. Nada sei sobre os seus sonhos.
Que tipo de ritual desejaram ou desejariam, se pudessem,
para celebrar o fim?
E aqui chegamos. Rituais e fim !
Por paradoxal que pareça os rituais vem antes, eles nascem dos vivos,
nos vivos e do desejo de um tratamento decente.
O desejo de uma morte que não seja a passagem para o vexame,
para  o escárnio das massas.
Uma morte que não seja um espetáculo para os sedentos de sangue,
os desocupados, os sem ética.
Desde a antiguidade que expor o morto, suas entranhas, deixar o
corpo sem sepultura, foi visto como forma de vilipendiar,
de desprezar, de humilhar num banquete abjeto.
Pq hoje sentimos tão grande necessidade de expor as feridas alheias?
Pq precisamos compartilhar o sofrimento?
Há um breve e indecente sorriso no canto da boca?
Um salmo imprecatório?
Temos participado de um tal banquete?
É preciso refletir sobre isso.
Sobre esta busca louca por fotos e vídeos que revelem
os corpos mutilados, as pessoas machucadas.
É preciso refletir sobre o espírito que nos anima a ponto
de considerarmos o sofrimento das famílias como coisa
absolutamente secundária.
Refletir sobre este caminho que debaixo de toda sorte
de desculpas procuramos manter, a fim de nos proporcionar um
deleite mórbido.
Há outros caminhos e possibilidades?
Penso que sim e ainda que não tenha a pretensão de apontá-los
quero convidar vc que lê este pequeno texto, a dizer Não.
Não a esta busca pelo sofrimento da semana.
Não a esta busca por corpos despedaçados.
Não a toda a estrutura que alimenta a todos e cada um
com o que há de mais bestial.
Nós não precisamos transformar em espetáculo as desgraças.
É indigno não conceder aos mortos e aos vivos que ficaram
o silêncio, a privacidade, um pouco de paz.
Não, vc não precisa ver as entranhas de quem quer que seja.
Nós estamos afundando na lama.
Há aqui tão grande corrupção...
A morte é um instante apenas.
É passagem pequenina...
Ela espera sua celebração.
Rituais diversos foram criados para isso.
Nós desenvolvemos variadas maneiras de nos despedirmos,
de lamentarmos... Festas, cantos, comidas, lágrimas, tristezas...
Celebramos com dor, com raiva, com resignação e com paz.
Os ritos são nossa mediação.
Eles pedem de nós inteireza na partida, pedem compaixão
pelos que ficaram e perdão para quem foi...
Eles tem ritmo e tempo que não são da tv, da internet...
Perder tudo isso é perder a nós mesmos.
Existir não é viver. Viver é algo mais e deste algo mais
faz parte a morte, a dor, o sofrimento...
E toda possibilidade que se apresentar para a generosidade.
É um olhar para o outro que precisamos?
É um desprender-se?
Estamos despedaçados e a procurar nossas partes nas imagens
da miséria, no compartilhamento das humilhações que outros sofreram.
Vc fica antenado, participa das discussões, pode emitir uma opinião...
Perca esta "oportunidade" !
A coleção de experiências de vida, o voyeurismo mórbido, o estar sempre
por dentro...curriculum vitae, fumaça pura.
Um olhar mais apurado sobre vida, sobre ética, talvez nos ajude.
Um olhar que não tenha medo de buscar as raízes, nem se detenha
diante do complexo ou do simples.
Teremos aqui que dizer não a muitas coisas.
Não a pobreza teológica de vitórias.
Não ao sarcasmo dos intolerantes.
Não a sermos instrumentos de ódio.
Não ao desrespeito com o espaço do outro.
Não ao não ao outro.
Não ao cadáver insepulto na tv, no youtube, no facebook.
Não as tentativas midiáticas de explorar a miséria e os mais fracos.

Ah, eu espero morrer num instante, um instante de vida.
Que me sejam queimados até os ossos e a memória desapareça.
Eu espero morrer a tardinha, num por-do sol entre nuvens.
E que seja possível alguns cantos, encantamento e silêncio.
Eu espero morrer como quem liberta,
como quem não é fardo mas pluma...
Espero que bebam vinho e contem estórias fantásticas
e as crianças comam chocolates.
É meu desejo sincero não ser conhecido na morte.
A morte é um instante pequenino...









quarta-feira, 24 de junho de 2015

Espiritualidades e tempo !

Ontem estive num santuário, como um peregrino,
um intruso numa casa que não é sua.
Não compartilho daquela fé ou de qualquer outra,
mas ao me aproximar daquele lugar tão belo,
ao ouvir as músicas que cantavam,
pude sentir como que uma respiração universal,
uma energia que se expande.
Então, o líder religioso tomou a palavra e tristemente
como se tornou comum nestes tempos
ele falou contra os outros...
Felizmente estava chovendo e pude me distrair com a chuva.
Isto sempre acontece quando vou a lugares assim, sempre chove.
Talvez as divindade brincalhonas
saibam que a chuva me encanta,
que quando criança adorava olhar os raios,
as poças dágua, que me embevecia com o cheiro da terra molhada,
com o uivo do vento,
com as longitudes das serras...
Esta é toda minha espiritualidade, a natureza e uma mão estendida.
Nenhuma doutrina me atrai, me encanta ou aborrece,
eu olho para a vida, para os mestres, para o que se apresenta,
para as possibilidades do amor, do outro,
da ciência, da espiritualidade...
Quando vc estiver num lugar assim,
cheio de paz, de encantamento dos sentidos, de transcendência
e alguém começar a falar contra seu irmão,
observe se está covendo, com certeza, as "divindades"
estarão lá fora.
Eu manterei meu coração aberto para a "respiração universal
e as energias que se expandem"
sabendo que os sentidos são enganosos,
que líderes se equivocam,
que doutrinas são fumaça pura e que os deuses
brincam comigo na chuva entre os trovões...
Ali, onde o barulho, as luzes, o molhar-se,
o permitir-se se encontram.
Onde somos plenamente humanos e o outro
não é um fardo para nós,
mas alguém que nos estende a mão
e como criança pula conosco no abismo da vida,
numa poça dágua.

Sobre o fanatismo !

O fanatismo, religioso ou político, começa com pequenos gestos
pequenas ofensas...
É do desrespeito e da indiferença com o destino do outro
que ele se alimenta.
É de lideranças irresponsáveis que ele vive...
da demonização da diferença e do diferente.
Como todo mal sua feitura se dá em fogo brando.
Sem ética, sem respeito, toda crença, religiosa ou não,
pode facilmente se tornar um espaço para
intolerância, violência, ódio e frustração.
Nestes tempos tenebrosos de estado islâmico
e outras aberrações, convêm exercer um olhar atento
sobre nossos gestos e palavras
e não abdicar da compaixão, da generosidade.
Todas estas crenças, um dia,
se perderão entre as estrelas.

Políticas Culturais.

Nas discussões sobre financiamento à cultura através de renúncia fiscal,
o que vcs pensam da participação das pequenas empresas,
como as que aderiram ao supersimples?
Nós não poderíamos criar um olhar local
se os pequenos empreendedores pudessem apoiar
a cultura nas suas comunidades?
Não poderíamos fomentar uma responsabilidade local
sobre o financiamento?
A lei Rouanet por exemplo, só permite a participação
de empresas tributadas pelo lucro real,
que são quase sempre as maiores e quase não existem
nas pequenas cidades.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sobre a encíclica papal "Laudato si".

Esta semana me proponho olhar a encíclica
que o papa Francisco lançou sobre a nossa casa comum.
Trata-se de um texto interessante sobre meio ambiente,
modos de produção, um olhar sobre o mundo e a natureza
e nossas responsabilidades na destruição desta mesma casa comum.
O papa Francisco, evoca neste trecho a importante figura de Francisco de Assis
e afirma, sem erro que ele é amado por muitos que nem são cristãos,
como eu.
Penso que dessa figura mística, podemos alcançar algum entendimento e
melhor relação com o meio em que vivemos.
Se a encíclica vai por este caminho ou o abandonará
saberemos mais tarde.
Inicialmente posto um trecho da encíclica e vamos avançando...
Os que desejarem comentar fiquem à vontade.

CARTA  ENCÍCLICA LAUDATO SI’
DO  SANTO  PADRE FRANCISCO
SOBRE  O  CUIDADO  DA  CASA  COMUM

10. Não quero prosseguir esta encíclica sem invocar um modelo belo e motivador.
Tomei o seu nome por guia e inspiração,
no momento da minha eleição para Bispo de Roma.
Acho que Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil
e por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade.

É o santo padroeiro de todos os que estudam e trabalham
no campo da ecologia, amado também por muitos que não são cristãos.
Manifestou uma atenção particular pela criação de Deus
e pelos mais pobres e abandonados.
Amava e era amado pela sua alegria, a sua dedicação generosa,
o seu coração universal.
Era um místico e um peregrino que vivia com simplicidade
e numa maravilhosa harmonia com Deus,
com os outros, com a natureza e consigo mesmo.
Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza,
a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.

O seu testemunho mostra-nos também que uma ecologia integral
requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exactas
ou da biologia e nos põem em contacto com a essência do ser humano.
Tal como acontece a uma pessoa quando se enamora por outra,
a reacção de Francisco, sempre que olhava o sol,
a lua ou os minúsculos animais, era cantar,
envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas.
Entrava em comunicação com toda a criação,
chegando mesmo a pregar às flores
convidando-as a louvar o Senhor, como se gozassem do dom da razão.

A sua reacção ultrapassava de longe uma mera avaliação intelectual
 ou um cálculo económico, porque, para ele,
qualquer criatura era uma irmã, unida a ele por laços de carinho.
Por isso, sentia-se chamado a cuidar de tudo o que existe.
São Boaventura, seu discípulo, contava que ele,
« enchendo-se da maior ternura ao considerar a origem comum de todas as coisas,
dava a todas as criaturas – por mais desprezíveis que parecessem –
o doce nome de irmãos e irmãs ».

 Esta convicção não pode ser desvalorizada como romantismo irracional,
pois influi nas opções que determinam o nosso comportamento.
Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente
sem esta abertura para a admiração e o encanto,
se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza
na nossa relação com o mundo,
então as nossas atitudes serão as do dominador,
do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais,
incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos.
Pelo contrário, se nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe,
então brotarão de modo espontâneo a sobriedade e a solicitude.
A pobreza e a austeridade de São Francisco
não eram simplesmente um ascetismo exterior,
mas algo de mais radical:
uma renúncia a fazer da realidade um mero objecto de uso e domínio.

sábado, 20 de junho de 2015

Sobre a playlist.

Ao lado pretendo compartilhar alguns vídeos legais na playlist.
Temas diversos para nos ajudar a compreender as coisas, os outros
e quem sabe nós mesmos.
Vamos refletir, discutir, aprender, pois de superficialidade,
generalizações e intolerância
este mundo está cheio.
Nós seremos amantes do saber se dele nos aproximarmos.
E isto não se dá sem esforço, mente e coração abertos !

Quanto as fotos no slide show tente descobrir de quem são !

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Das sementes !

Algumas pessoas acreditam que uma melhor condição de vida,
que a garantia e ampliação de direitos se dá sem lutas e que tudo isso aconteceu
assim, sem mais nem menos.
É  preciso entender e saber quem historicamente tem se colocado ao teu lado
nestas lutas.
É preciso entender que a conquista de direitos não é o resultado de uma conspiração
do universo e sim da luta de alguns grupos e indivíduos.
Quem são eles, como reconhecê-los. A formação política passa pelo saber.
Compreender a história, quem veio antes, quem se arriscou e batalhou para que
vc pudesse desfrutar dos direitos que tem, pode esclarecer muitas coisas e te propiciar
espaço para a gratidão e forças para seguir.
O espaço para opinião que temos neste país é praticamente impossível em outros.
Aproveite para qualificar as suas, para defender idéias e cuidado com o vexame
muito visto nas redes sociais de usar a liberdade de expressão ( um direito humano
ainda não garantido em todos os lugares) para ser contra os direitos humanos...
Isto é um nonsense total.
Cuidado para não ser favorável a que tua religião predomine
em detrimento do estado laico, pq é exatamente este estado laico que garante
a liberdade de culto.
Sem ele talvez tua fé fosse considerada apenas mais uma heresia
para o manda chuva de plantão.
É tolo, para dizer o mínimo, usar da democracia para destruir a própria democracia.

Mishima - Templo da Aurora.

"Era o mesmo que amor,
seu coração estava sempre aprisionado numa rede, numa armadilha.
Tentou distrair-se praticando caligrafia, mas, sem querer
sua mão acabava traçando caracteres relacionados com a Lua..."

A sustentabilidade.

E houve um impasse nas negociações climáticas que aconteceram em Lima.
Estados Unidos e China discordam sobre em quem devem colocar a responsabilidade
pelo aquecimento global, a Eritreia ou a Etiópia?

Da peça secreta !

Antes de ir, verei, beijarei e abraçarei muitas pessoas.
Olharei alguns lugares com carinho.
Atravessarei as pontes da cidade displicentemente.
Pensarei.
Antes de ir lutarei até o penúltimo momento, sonharei um pouco mais
no momento derradeiro.
Antes de ir verei o mar, e nele lavarei, pés, mãos e cabeça. Meditarei.
Antes de ir perdoarei a mim mesmo, ouvirei algumas dores de amigos, dores do mundo.
Cuidarei.
Tendo feito inteiramente tudo, vencido inteiramente, fracassado completamente,
com olhar atento, coração e braços abertos, partirei e sentirei saudade como quem ama.
Amarei.

Para um amigo e sobre as preocupações da finitude !

Não te preocupes com as divindades estando triste ou feliz.
Se eles existem e são deuses, se são deuses e grandes, se grandes e amam,
te compreenderão.
O que vc não faria por quem está em teu coração?
Vc não cuidaria de quem ama, pelo cuidado que o amor exige?
E sendo assim, vc esperaria um clamor imenso, uma súplica desesperada?
Não! É de tua presença em ti e nos outros que se constroem o que de verdadeiro
há nos sentimentos... Vive e deixa a vida ser até o fim!
Se há deuses que eles se comportem como tal.
Tu és apenas humano com todo o maravilhamento e tempo que daí decorre!

Bertrand Russel - Ensaios Céticos.

"...podemos começar a construir uma nova moralidade,
que não esteja baseada na inveja e na restrição,
mas no desejo de uma vida completa,
e a perceber que outros seres humanos são uma ajuda e não um impedimento,
depois que a loucura da inveja for curada.
Isso não é uma esperança utópica; foi em parte realizada na Inglaterra elisabetana.
Poderia ser alcançada amanhã,
se os homens aprendessem a perseguir sua própria felicidade e não o infortúnio dos outros."

Esta não é uma obra de auto-ajuda!

Cuidado com a moral dos lobos, mas cuidado também com a moral dos cordeiros.

Filosofia e futebol !

Sócrates.

Por ouvir os sinos meu cachorro correu na tempestade !

Estar em paz consigo e com o mundo é coisa boa,
mas quando o mundo e nós mesmos somos injustos,
esta paz está mais próxima da cumplicidade que da sabedoria.

Da estrada aberta e percorrida !

A natureza é sábia... Nos proporciona o esquecimento!

A passagem

Já que a felicidade não é fácil, pelo menos não dificulte.
Nem para vc, nem para os demais.
Sob os nossos pés há uma ponte e o caminho é um e não é. E é eterno !

sábado, 13 de junho de 2015

O Tao.

"Trinta raios convergentes no centro tem uma roda
mas somente o vácuo entre os raios
é que facultam seu movimento.
O oleiro faz um vaso manipulando a argila
mas é o oco do vaso que lhe dá utilidade.
Paredes são massas com portas e janelas
mas somente o vácuo entre as massas lhes dá utilidade.
Assim são as coisas físicas
que parecem ser o principal
mas seu valor está no metafísico "

Lao Tsé - Tao Te Ching

Darmapada

"Não as imperfeições dos outros,
não o que fizeram ou não,
mas em nós próprios apontemos
o que foi feito ou não o foi."

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Parábola !

No princípio era o verbo!
Era um mar de pedregulhos, todos seguros de si fincados na areia, imutáveis.
Há quem diga que eram dogmas católicos e as pessoas acreditavam...
"Creio porque absurdo"!
Tão na areia fincados como barro que não davam conta do vento e se desfaziam em juízos.
Por entre as frestas, entulhos e um conjunto de sons zumbindo, latindo, rangendo... conjuntos vários, complexos, frágeis, como que nascidos de um sonho.
Balançando ao vento, comungavam com tudo que se desmancha eram feitos de humor e de açucar. Das bocas escancaradas, acostumadas a mal-dizer, mal-querer, mal-beijar uma única palavra escapa: Blasfêmia! _ Chamem a Inquisição!
Gritou o cardeal, cercado de leões de fraque.
Um filhote de leão discordou do pai.
O pai eterno coçou a cabeça... era um mar de pedregulhos cercado de poesia.
E no princípio era o verbo, que não vivia sozinho!

Novembros

" Se eu gostar de você meu bem e fores feia feia como a morte
falsearei esta beleza atroz e te farei bela como a sorte "

 Os festivais se sucedem em Novembro!
Agora estamos no Festival Recife do Teatro Nacional.
Você poderá encontrar os artistas, produtores, satélites e outros boêmios na rua da moeda.
Alguns vão direto ao assunto:
Você gostou? Não gostou? Eu gostei! Não gostei! E assim vai...
Parece ser uma característica muito comum, por aqui, detonar espetáculos alheios.
É uma pena!
A falta de reflexão profunda quase sempre se faz presente na maioria das críticas, numa atitude carente de rigor intelectual, às vezes notadamente infantil, outras, infelizmente, invejosa.
Recife acostumou-se com a síndrome do caranguejo manco...
É possível gostar de algo que não é bom e também detestar coisas maravilhosas, mas é suficiente este critério para avaliar nossos trabalhos ou o do outro, em arte?
Podemos reconhecer o valor de uma coisa ainda que não apreciemos a coisa em si, (Kant não me perdoará pela falta de rigor filosófico) podemos contextualizá-la.
Somos nós a medida da arte? Gosto, logo existo! E a alteridade?
Vi recentemente dois espetáculos , que me parecem um avanço no teatro infantil de Pernambuco... Não são os únicos! Ainda bem!
 Pode-se perceber um cuidado com a criança, seus modos de participar e ver a arte, a maneira como se encanta ou se afasta (algumas choram, riem, participam).
"Historinhas de Dentro" e "Outra vez era uma vez..." são peças bem cuidadas, que abordam temas difíceis como a morte e a doença.
O que isto tem a ver com as idéias de Marco Camaroti sobre teatro infantil?
Talvez nada... ou quem sabe podemos confrontar os espetáculos citados, com estas idéias e encontrar melhor fundamento para nossas opiniões?
É um caminho, não é o único, nem digo que seja o melhor...
Traga sua contribuição e vamos fiando nosso quadro de cena.
Ah! Fico devendo a "Síndrome do caranguejo manco" e "Kant e a coisa em si"
 Um abraço

Etc e Tal - Passeio

É um novo dia!
Nós atravessamos as pontes e observamos as águas, o cheiro fétido nos ataca.
Os mercados de São José, Boa Vista, Santo Amaro, Casa Amarela e outros...são uma teia, cheios de moscas, mondrongos e brilhantes coisas.
Um passo à frente e ela jogaria o papel no lixeiro, mas não!
Na folha estava escrito um manifesto, um poema ou uma receita de lentilhas com casca de laranja. Um manifesto a favor dos manifestos, dos poemas, das lentilhas e laranjas.
Tudo está nos mercados, nos bairros, ou deveria.
Quanto custa uma dúzia de bananas no Ibura?
E a exposição passa pelas belas galerias fluviais, até o mar...serpenteando entre vi não vi gostei não gostei
De cada lugar se desprende um sem fim de energia, de luz, de criação.
A aranha tece a teia que tece a aranha ( O Capital, TOMO XXI, Cap. 123).
Os barquinhos deslizam nas teias dos rios, sobem e descem a remo.
Nos braços, novos coletivos os impulsionam.
Enquanto isso as torres gêmeas - carinhosamente chamadas de Sandy e Junior pelos neoboêmios- elevam-se no aterro.
E os impertinentes gritam: "Osama nas Alturas" Kabum!
Ela caiu num buraco de pedras portuguesas, que aqui chamamos calçada.
Estava de plataforma de embarque e desembarque.
Ancoramos no porto digital e vamos torcer para uma peça boa no centro Apolo-Hermilo.
Pagando o ingresso.
Depois amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no Pátio de São Pedro e estica até a Várzea,
Bomba do hemetério, Bongi e Alto do Capitão.
E se nossos coletivos fossem para os bairros?
O papel finalmente caiu na lama, desprendendo um sem fim de energia!