quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Enquanto isso na sala do Magiluth...

Projeto Paralelo - Coletivo Nó - Shakespeare.

O que vc faz com pessoas que dizem que antes de tudo são amigas?
Convida as mesmas para fazer um leitura dramatizada de Shakespeare, claro.
Não? Bem, eu segui este caminho e convidei o Coletivo Nó para esta empreitada.
Gosto de compartilhar meu apreço pelo dramaturgo inglês com outros artistas, desmistificando
qualquer impressão de imensa dificuldade em Shakespeare.
Muitas pessoas dizem isso... como é difícil! É muito complexo! E assim vai.
Quanto à complexidade não tenho dúvidas, mas difícil é aquela desculpa que a gente dá
quando o esforço exigido é um pouquinho maior do que o rotineiro.
Alguém desiste de uma pessoa amada por achar difícil conquistá-la?
Desiste de um sonho? Sim !
E depois é só viver com as escolhas que fez... ou não fez.
Um grande artista tb tem a dimensão de grandes relacionamentos, descobrir, encobrir,
amar, odiar, seduzir... a arte e os grandes artistas tem demônios que só os apaixonados
podem ver, só eles ardem deste fogo.
Que os deuses livrem vcs de alguém que não te cobra nada,
não tem um tiquinho que seja de ciúme. A grande arte é chama.
Vamos deixar o leite para as crianças...
O que vem a ser a amizade? Um cristal belo e fininho que quebra com qualquer coisa?
Que material humano foi este que Shakespeare trabalhou?
Iago, Cordélia, Hamlet não poderiam viver no apartamento do lado?
Todo sentimento, todo humano, carece tb de maturar de crescer,
de abandonar a infância eterna e arder como coisa cheia de encanto,
de luz, de sangue, de sexo e mistério.
Grandes amizades é o que desejo para o Coletivo Nó...
Shakespeare é uma delas. Se fizermos as escolhas certas
possivelmente vamos sair deste processo melhores artistas e mais humanos.
O que não deve ser confundido de maneira alguma com " mocinho" de novela...
eu detesto os bonzinhos de novela, unidimensionais, inverossímeis, chatos.
Ah, mas Ofélia a louca, esta eu poderia amar...
Eu amaria Cordélia e Lady Macbeth e provavelmente iria com Iago
tomar um chopp no central.
São as dimensões humanas profundamente ricas, suas matizes, penumbras,
recônditos, deslumbres, que Shakespeare traduziu em suas obras.
Quanta magia em Próspero, quanta sandice em Lear, quanta grandeza.
Se encontramos dificuldade em Shakespeare e outros como ele, devemos ficar atentos
para saber se a culpa não é dos nossos dias pequenos,
da nossa educação terrível, mediana, de formar operário padrão.
Ninguém deveria ser obrigado a ler Shakespeare, Machado, Guimarães Rosa...
não se pode obrigar quem quer que seja a ter um grande amor.
Aquele que encontrou este amor, encontrou um tesouro... melhor que ele brilhe.
Que tudo seja cobrado do Coletivo Nó... tudo que é humano, afoito, misterioso.
Que lhes seja exigido esforço, beleza e chama.
isto é o mínimo que vc pode fazer por pessoas que se dizem amigas.


Ana Julia, eu não expliquei nada sobre a criança...?
Quem quiser arrisque alguma coisa sobre verdade e verossimilhança.
Não esqueçam da poética de Aristóteles.



Projeto Paralelo é o novo trabalho de Elias Mouret.
O Coletivo Nó foi convidado para fazer uma leitura dramatizada de Shakespeare.
As leituras dramatizadas são uma parceria com o SESC e a Livraria Cultura.
Nós ensaiamos na sala do grupo Magiluth.
Eu agradeço de coração a Rita Marize (Sesc Santa Rita)
a Giordano Castro e demais membros do Magiluth. Evoé!


eliasmouret